É sabido que o jornalismo político não abre mão de intrigas. Aprecia-se principalmente quando determinada frase pode provocar brigas de grandões. Por exemplo, pegar cada frase de Lula ou FHC e colocar como se fosse crítica de um ao outro.
O jogo ideológico também não prescinde de bordões, da mesma forma que qualquer tipo de análise minimamente sofisticada os abomina. Por exemplo, a questão da herança maldita ou da herança bendita de FHC é um caso clássico.
Quando o governo Lula atribui determinado mal à herança de FHC, quando se deve utilizar a ironia?
Há uma regra básica:
1. Tudo o que aconteceu no período FHC é responsabilidade de FHC. Por exemplo, a apreciação do câmbio de 1994/1999 é culpa de FHC.
2. Tudo o que ocorreu depois de 2003, e que não tem relação de dependência com o passado, é culpa de Lula. Por exemplo, a apreciação do câmbio no período 2003/2008 é culpa de Lula.
A partir daí, pode-se criar um manual de bordões primários a ser utilizado, quando se falar na herança de FHC:
1. Quando o assunto for a política monetária do BC. Pode usar a ironia. Desde 2003 é responsabilidade total de Lula.
2. Quando tratar da dívida pública, não pode utilizar a ironia. Dïvidas se herdam.
3. Quando se criticam as agências reguladoras como herança maldita de FHC, pode-se utilizar a ironia, porque o perfil das agências de hoje foi definido pelo governo Lula.
4. Quando se fala em desmonte do setor público, não se pode usar a ironia, porque leva anos para se recompor.
Quando Dilma Rousseff diz que que até 2.000 a Petrobras foi uma caixa preta, não pode ser ironizado. Primeiro, porque a empresa, presidida por Joel Rennó, era uma caixa preta, não tinha avançado nas normas de transparência nem da Bovespa nem da Bolsa de Nova York, não havia planejamento estratégico. O novo modelo começou a ser montado na gestão Phelippe Reischstull, ainda no governo FHC.
Se a Ministra se refere à caixa preta do período 1994-2000 (gestão Joel Rennó) e exclui o período 2000-2002, quando a Petrobrás começa a tomar rumo, na gestão Phelippe Reichstull e ambos foram do governo FHC, é evidente que não está falando em herança maldita nem demonizando o antecessor.
Aí o Globo pega o primarismo de alguns blogs de ideia fixa e resolve aplicar a fórmula banalizada:
Seis anos depois, a culpa ainda é de FHC
Vinte anos depois, continuará sendo. Ou se julga que erros podem ser prescritos da história?
artigo retirado daqui: http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2009/05/23/a-culpa-e-de-fhc/
FHC e o período negro da Petrobras
Como todo mundo sabe, o governo de Fernando Henrique Cardoso queria vender a Petrobras, que quase virou “Petrobrax”. Mas estava evidente que a venda do mais rico, estratégico e promissor patrimônio brasileiro não seria um projeto fácil como foi a venda das outras estatais. Pois havia o maior entrave: a opinião pública.
Coincidência ou não, a gula pela venda da Petrobrás foi sincronizada com a mais incrível sucessão de desastres e más notícias que aconteceram nos 55 anos de história da empresa. Em outras palavras: a “Era FHC” foi também o período mais negro da história da estatal brasileira. Estaria então a Petrobras sendo “sabotada” para ser mais facilmente liquidada? Para quem gosta de uma teoria conspiratória, a imaginação é livre…
o resto?, aqui.