Não sou crítico teatral. Gosto de assistir a (boas) peças. Porém, não sei se tenho este tino crítico para teatro. Talvez porque só vi o que gostei até hoje, e como vi pouca coisa, pouco posso acrescentar a uma peça. Nos últimos seis meses, assisti a somente três peças, a do Lourival Andrade com “Carlos Marighella e o Chamado de Cangoma”, “Devoradores de Livros”, que gostei muito (ah sim, gostei muito da do Marighella também) e, agora, “Volúpia”, o qual assisti ontem no Teatro Municipal, dentro do excelente projeto “Toda Terça Tem Teatro” – que foi um dos agraciados pela Lei de Incentivo à Cultura de Itajaí. Ah, “Devoradores de Livros” também vi dentro desse projeto.
Bem, vamos à tentativa de crítica. Gostei muito do que vi. Não sei se ele é tão profundo como uma crítica que li e outra que ouvi de uma amiga, mas acho que ele nem precisa dessa “profundidade”, pois a crítica que a peça pretende fica bem explícita durante o (pouco) tempo de duração dela. Com diz o release da peça, ela trata de estereótipos (“o casal que procura no alargamento de seus limites sexuais o amor que lhes falta, a menina que descobre a sexualidade, o homem que luta contra seus desejos”), e estes estereótipos são levados às ultimas conseqüências (um fato positivo: os espectadores ficam no palco, beeem perto do que acontece, o que acaba levando estas conseqüências ainda mais longe no espectador), causando estranhezas e provocando o tempo inteiro a platéia, que já é recebida com o espetáculo acontecendo; todos sorriem, dançam, servem bebidas, felicidade é o que pedem, pois o que está por vir é o lado escuro dessa pseudo-felicidade e sentido nessa porra toda é o que procuram. E bota escuro nisso. Mas não vou contar mais sobre a peça, senão perde a graça. Aliás, quem não quiser saber mais detalhes, não leia o que coloquei a seguir, pois se trata de algo da peça bem específico da peça (apesar de eu fazer a relação com outra coisa). Antes disso, a ficha técnica de “Volúpia”.
Companhia: Cia. Carona
Direção: Pépe Sedrez
Elenco: Fábio Hostert, James Beck, Léo Kufner, Sabrina de Moura, Sabrina Marthendal e Roberto Morauer
Texto: Gregory Haertel
Trilha Sonora: André Ricardo de Souza e Paula Braun
Duração: 80 minutos
Bem, sobre a parte específica, e não tem nada a ver com a peça o que quero dizer, é sobre um momento, no final da história (já disse, não leia se não quiseres saber o “final” da história), há um momento em que uma das personagens é estuprada, e estuprada com certa violência. Na minha frente, estava sentada uma pessoa que, quando da leitura de um conto meu no Sarau Benedito tempos atrás, vaiou quando terminada a leitura do tal conto. O conto tratava de um estupro. Porém, a tal moça (não vou revelar seu nome aqui, mas, se ela quiser – se é que ela lê este blog – fique livre para se manifestar), durante o ato do estupro na peça, não manifestou qualquer reação contra o ato, nem mesmo contra a peça, chegando a aplaudi-la efusivamente! Ah sim, ela também é atriz de teatro. Na época do acontecido cheguei a questioná-la sobre isso, “se num filme onde acontecesse um estupro ela também vaiaria” e coisas do gênero, explicando que meu conto era puramente uma ficção e que não refletia o que pensava – o conto é em primeira pessoa. Ela até (eu acho) chegou a entender, mas continuou com seu “repúdio” ao conto. Bem, é só isso. Não é bem uma crítica a ela, mas uma crítica a esta diferenciação nas artes. Também até poderia falar da platéia que, como sempre, parece entender de modo “errado”, por exemplo, quando vi alguém rindo pelo personagem ter falado “vem aqui e me chupa, porra!”. Sinceramente, foi uma frase forte dentro de um contexto forte. Não é para ser engraçado. Não sei como são outras platéias de outras cidades, ou de centro urbanos maiores, por exemplo, mas não é a primeira vez que vejo isso, e esse nem foi o único exemplo durante a apresentação de “Volúpia”. Despreparo do público? Texto chocante? Forte demais? Não sei. Deixo as respostas a quem entende mais do que eu de teatro e afins. 😉
Coordenação do projeto Toda Terça tem Teatro
Daniel Olivetto 9615-7868 / contato@itajaiemcartaz.com.br