minha coluna desta semana no jornal Sem Censura:
Eita palavras tão usadas atualmente, não? É segurança pública pra cá, segurança pública pra lá, todo mundo fala de segurança pública, todo mundo quer segurança pública, todo mundo – ou quase todo mundo – entende que só tem uma saída pra segurança pública: POLÍCIA; policiamento; ostensividade; patrulhamento; policiais na rua. Mas, a pergunta que sempre me faço é: em quais ruas? Todas? Sério que um dia conseguiremos colocar policiais em quase todas as ruas da cidade? Todas com carros da PM circulando? O “big brother” observando a todos o tempo inteiro? Sério mesmo que acreditam nisso, vocês que gritam pelas redes sociais e entrevistas e discursos nos legislativos e executivos?
Não, né? Ninguém acredita. Mas todos fingem que acreditam. É melhor continuar bradando: queremos segurança pública! Em Itajaí até já se falou que a Guarda Armada não vai resolver todos os problemas de… segurança pública, mas, teremos, oh, a SENSAÇÃO de segurança!! Sério! Se investirá milhões de reais pra termos… sensação de segurança! E isso nos bastará! Claro que as manchetes de assassinatos (na periferia, quando merecerem manchetes) continuarão, casos de homicídios continuarão, basicamente, do mesmo jeito. Pois estes fatos continuarão acontecendo, onde sempre acontecem: NA PERIFERIA. Pois lá, bem, lá, já sabemos, o povo continuará sem acesso à políticas sérias, POLÍTICAS SOCIAIS de verdade, que os beneficiem, que levem Educação e Saúde e Habitação e Cultura. Mas o que queremos mesmo é policiais nas ruas (“nas NOSSAS ruas”), queremos guarda armada (“pra patrulhar o NOSSO belo bairro super-valorizado”). E, claro, a “opinião pública” será levada a crer que isso é para o bem dela. O povo achará que estará melhor, mais seguro, pois, oras, lá no centro da cidade, o patrulhamento será forte, ostensivo, e acabarão (ha ha ha) os assassinatos de “pessoas de bem(s)” nos belos bairros da nossa cidade! E a imprensa, que não dá muita bola pras mortes na periferia, começará a dar loas pela “sensação de segurança” que estaremos vivendo (na parte “boa” da cidade), enquanto, é claro, as estatísticas de mortes continuarão praticamente inalteradas.
Mas, querem a solução? Não há solução! Não a curto prazo, nem a médio. Vivemos sob o jugo do Capitalismo, e o Capitalismo precisa da pobreza (que vende barato sua mão-de-obra). “Ah, mas temos países ricos, onde não há pobreza”. Sim, mas ALI não há pobreza. E quase certamente porque a pobreza foi/é gerada em outro lugar para gerar a riqueza daquele “país rico” (ou acham que a Europa é rica porque são melhores que nós?); um exemplo local é Balneário Camboriú e Camboriú. E é assim que será, ainda, por muitos anos, décadas. Continuaremos com um contingente grande de marginalizados, e a única “solução” é esta apresentada pela maioria da classe política e afins: mais polícia. Depois, quando percebermos que esta não é a solução, restará a segregação dos bairros periféricos; isso mesmo, quem vive nas periferias violentas praticamente estará isolado do resto da cidade (como já vem acontecendo, sorrateiramente, aos poucos). E, assim, o Capitalismo seguirá, “invencível”, contando com o apoio, inclusive, dos que são marginalizados, oprimidos pela pujança dos cada vez mais ricos (“ah, trabalharam tanto pra isso, né?”), inventando novas fórmulas para corrigir seus problemas cíclicos, até, quem sabe, a destruição de todas as riquezas naturais do nosso planeta, tudo para consumirmos coisas que não precisávamos, mas, que enriquecem ainda mais alguém – e, consequentemente, mantendo outros na marginalidade. Esse é o resumo dos nossos problemas, inclusive, o da segurança pública.