Eu vivo estas situações de enchentes/alagamentos em Itajaí desde 1983/1984 quando lembro de sair de mãos dadas com minha mãe com água nas minhas pernas de criança de cerca de 7 anos e minha irmã menor nos ombros do meu pai.
Depois dessas grandes enchentes peguei as de 2008/2011 (mas não a de 2001). Nestas duas grandes, posso dizer que comecei a aprender sobre o processo destes fenômenos aqui na cidade.
E estas duas (até agora) de outubro e novembro foram mais duas para este aprendizado.
Não chegaram a ser enchentes na forma como usamos aqui.
Em outubro tivemos fortes alagamentos pelo Itajaí-açu. Já esta de novembro, foi prioritariamente o Itajaí-Mirim.
Penso que podemos chamar de enchente/inundação quando são os dois rios que afetam a cidade.
Ainda assim, quem sofre por uma ou outra, não quer saber de nomenclaturas.
E centenas de famílias em Itajaí (re)vivem novamente o drama de perder tudo ou quase tudo e, agora, começa a busca por culpados.
Os mais apontados são a defesa civil de Itajaí e Prefeitura de Itajaí, o que dá no mesmo.
Um dos motivos é de que teria havido um descrédito das previsões meteorológicas em outubro por muitos do governo.
Outro ponto seria de que não houve avisos suficientes ou bem divulgados.
Agora, aponto um dos principais problemas deste alagamento de novembro: A REPETIÇÃO de um problema “que não aconteceu”.
Sim, em outubro, a previsão era de uma GRANDE ENCHENTE que não aconteceu em Itajaí. O Itajaí-açu encheu, a parte norte da cidade foi bem atingida, mas, a região sul (e nem a parte central), por onde passa o Itajaí-Mirim, não.
Porém, em outubro o Itajaí-Mirim (em Brusque) chegou a 6m91 e o Itajaí-Açu (em Blumenau) 10m75. Já em novembro, Brusque registrou o Itajaí-Mirim com 8m96 e Blumenau 9m14.
E Itajaí é atingida pelos DOIS RIOS de cidades diferentes. Ou por um, ou pelos dois.
Esses alagamentos de novembro de 2023 me parecem que foram semelhantes aos de 2001. E nessa data, o Itajaí-Açu em Blumenau chegou a altíssimos 11m02! Infelizmente, não consegui até o momento os dados de Brusque em 2001.
E, mais um ponto. Em outubro, tivemos VÁRIOS DIAS para nos prepararmos. Nessa, de novembro, a chuva aconteceu EM UM DIA, na quinta-feira. Sexta, pouca chuva. Sábado de madrugada, a água que caiu MUITO FORTE pra cima de Brusque, chegou em Itajaí, e, aí o Itajaí-Mirim saiu da calha no final da madrugada de sábado e só desceu no final da tarde e começo da noite de domingo.
Mesmo com os avisos da Defesa Civil de Itajaí e prefeitura, muita gente achou que seria menor ou igual novembro. Ninguém quis dar muito crédito de que alagariam as partes baixas próximas aos rios da cidade.
Não descarto os problemas de comunicação do governo municipal. Mas, NO MEU ENTENDIMENTO, houve um cansaço da população, que em outubro tinha se preparado, tirado tudo de casa, para dias depois retornar com as coisas (e isso dá MUITO TRABALHO) e, que, agora, deixou a população inerte.
Há que se entender melhor o funcionamento dos nossos rios. Eu não sou especialista, só tento entender mais a cada evento climático que nos leva a este ponto. E, repito, estes eventos só se repetirão com mais frequência com o Aquecimento Global no qual já vivemos e só piorará.
Ainda, como há muitos anos, penso que deveríamos ter melhor trabalhado o sistema de cotas de enchentes em Itajaí. Inclusive, baseado nos níveis de rios em Brusque e Blumenau, nossas principais influências. E nisso, culpo nosso poder público que apenas faz um monitoramento local (e sim, avisa, faz os boletins, mas ainda não é o suficiente, principalmente quando vivemos eventos seguidos).
Precisamos de MUITO MAIS. Principalmente, uma DRAGAGEM do Itajaí-Mirim que poderia minimizar enormemente estas questões pontuais. Sem contar outros fatores, como um MOLHE (dique) na foz do Itajaí-Mirim, que, segundo estudos, melhoraria bastante o fluxo de água que desemboca no Itajaí-Açu na Barra do Rio (pag. 45 do “ESTUDO PREPARATÓRIO PARA O PROJETO DE PREVENÇÃO E MITIGAÇÃO DE DESASTRES NA BACIA DO RIO ITAJAÍ”), além de piscinões (naquela curva do Itajaí-Mirim próxima à Avenida Contorno Sul me parece um local que poderia ser transformado num “piscinão” para contenção de cheias) e barragens.
E, até agora, este estudo de 2011, não recebeu maiores (ou nenhum) investimentos das prefeituras e governo do estado de Santa Catarina. E aí, a gente sabe quem paga por isso, não é?
Foto de novembro de 2023 em Itajaí nos alagamentos do Rio Itajaí-Mirim