por Moacir Kienast:
Pra começar quero esclarecer de uma vez por todas: não defendo impunidade, tampouco sou a lei para julgar. Mas não me rendo ao discurso fácil e não quero sangue para me satisfazer. O debate, comigo, é mais amplo.
Fui julgado, condenado e sentenciado pela ideologia que escolhi. Por acreditar na política. Por fazer política. Se sou culpado por fazer uma escolha saiba que pelo menos tenho uma. E que estou fazendo a minha parte.
Em um momento que as instituições nacionais estão em xeque devido sua credibilidade, principalmente pela influência sofrida por seus comandantes não podemos ficar calados. Temos que tocar na ferida. Chegou a hora de amadurecer a sociedade e a democracia brasileira, chegou a hora de não termos mais medo, tampouco preconceito para lidar com situações de tal proporção.
Se você continua achando que ideologia não existe mais, você está enganado. A guerra ideológica continua aí, dia após dia, mais acirrada, maquiada em ações que podem confundir quem não observa nas entrelinhas dos acontecimentos, ou quem não conhece os bastidores.
As manifestações de junho poderiam ter sido aproveitadas em um período para discutir a sociedade. Para aumentar a participação popular. Porém, o que vemos hoje é a continuação de um sistema precário e viciado, o sistema político. Não houve uma reforma que pudesse mudar a cara do Brasil, tampouco sua maneira de ser gerido.
Sofremos e ralamos com as migalhas que a elite dominante insiste em manter sob seu controle, e a guerra ideológica que você insiste em dizer que não existe somente aumenta esse abismo.
Nossas instituições estão em cheque. Judiciário, legislativo, executivo. Sistema de comunicações, futebol, gestão de eventos, crescimento econômico, o país.
Enquanto o gigante acorda, ou adormece, percebemos que estamos em outro patamar frente a distribuição mundial de forças e organização econômica. Porém ainda nos negamos a discutir o que os países dito “desenvolvidos” já discutiram, pois permanecemos presos a velhos preconceitos e costumes que ultrapassa gerações desde o Brasil colonial.
E se você acha que não interfere com suas atitudes, pense no que tem feito para o próximo? Qual a semente que você está deixando para nós, sociedade? Será que pregamos ainda a semente do racismo, do preconceito velado? Nós acreditamos ainda em um meio de comunicação que por mais de cinquenta anos serviu a ditadores e ao dominador estrangeiro que explora nosso povo, influenciando gerações que poderiam aumentar seu caráter perceptivo através do conhecimento, porém só sabe ter discernimento naquilo que lhes é entregue no jornal das oito? Ou nos “bons” costumes e “moral” das novelas? Em que patamar estaríamos se houvesse uma sociedade com maior conteúdo intelectual, que discutisse com voz ativa?
A internet abriu os horizontes do brasileiro. Deu acesso a informações nunca antes imagináveis, trazendo a oportunidade de evoluirmos como sociedade de uma maneira mais ampla e democrática. Porém o que vejo é um festival de rótulos, acusações e discussões sem fim do mesmo teor.
Lembre-se. Para todo político corrupto há um empresário corruptor, há um cidadão que tira proveito da situação e uma sociedade que sofre pelo complexo de narciso.
E pra falar em mensalão, nunca antes se viu político preso no Brasil. Ou preso político. Os episódios dos últimos dias colocam em cheque uma discussão que está tentando entrar em pauta a mais de uma década, a reforma do judiciário. Sempre ouvimos que a lei só serve para quem tem dinheiro. Vemos falhas em processos e influências diretas de corruptores em sentenças em todo o país, e parece que o assunto não quer ser debatido. Todos esses erros levantam a credibilidade do processo. E repito, não estou aqui para defender quem tem culpa, tampouco para acusar. Estou aqui para levantar um questionamento mais amplo para a sociedade.
Iniciamos um processo sem volta de caça aos corruptos, corruptores e aos males da sociedade. Por uma instituição que está em cheque. E ela só vai provar sua plenitude se seguir a risca o peso de seu martelo, acertando em todos os lados, sem distinção de partido ou preferência ideológica. Temos que ter pulso firme contra a corrupção, em todas as esferas. Sempre.
Esperem de mim algo mais. Esperem de mim não ter medo de discutir qualquer tema, mesmo achando que a minha opinião pouco importa. Agora não me peça para entrar no senso comum e seguir a cartilha do que a maioria dita, pois político que age conforme o vento tem um monte por aí. Se parti para esse caminho, sabia que não ia ser fácil, tampouco me propus a ser mais um. Portanto, rótulos não devem ser colocados para aqueles que não desejam ser rotulados. Um pouco mais fora da curva, se assim for necessário enquadrar.
Defendo a democracia e as leis. E uma discussão mais ampla e mais profunda sobre nosso país e nossa cidade.
Ta na hora de mudar essa sociedade….
*Artigo publicado no Jornal Sem Censura
Foto: Um grande momento eternizado por um fotógrafo, uma foto que tirou uma pessoa do anonimato, lhe deu um nome e o mundo conheceu sua história. Trata-se de August Landmesser (1910 – 1944), um trabalhador do estaleiro Blohm + Voss em Hamburgo. Ele aparece na fotografia desprezando a saudação nazista no lançamento de um navio de treinamento militar em 13 de Junho de 1936. Um ato de muita coragem ! Ele pertenceu ao Partido Nazista de 1931 a 1935, mas após se casar com uma judia e se tornar pai, foi condenado por ter “desonrado a raça” segundo as leis nazistas e tornou-se opositor do regime de Hitler. Em Fevereiro de 1944 foi preso e pouco depois declarado “desaparecido” … Fonte: Jornal GGN