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A verdade sobre a Verdade

janeiro 18, 2010

Rio de Janeiro (RJ), 15/01/2010 – O artigo “Em sociedade tudo se sabe, até os bastidores da Lei de Anistia…” é de autoria de Hildegard Angel e foi publicado em sua coluna do dia 15 de janeiro no Jornal do Brasil:

“Queiram ou não, o Brasil cumprirá seu destino de ser uma Nação na melhor acepção do termo. Se não for por decreto de Lula, por lei do Congresso, poderá ser através do Supremo Tribunal Federal, ao qual o Conselho Federal da OAB ajuizou ação, no ano passado, assinada por Cezar Britto e Fabio Konder Comparato. A ação da OAB, que tem o ministro Eros Grau como relator, propõe que o STF dê uma interpretação da Lei de Anistia de que não há anistia para torturadores …

Verdade é que o Supremo está dividido nessa matéria. Mas será bem melhor que a solução venha por ele, e não pelo Congresso, o que abriria espaço para as viúvas da ditadura e outros protagonistas do negro passado ocuparem a tribuna e a imprensa para dar interpretações que favoreçam as próprias biografias e não o rumo histórico deste país…

A tortura é um crime que não prescreve, de lesa humanidade. Para nosso vexame, corre até um processo contra o Brasil, na Corte Interamericana de Direitos Humanos, para que não haja prescrição para quem trucidou na guerrilha do Araguaia…

A Comissão de Verdade e Justiça, defendida pelo ministro Paulo Vannuchi, é um processo de redenção definitiva.

Ela honra as famílias vitimadas, preserva a honra nacional, é digno, é importante. Na África do Sul, houve Comissão da Verdade, com o bispo Desmond Tutu. Na Argentina, ela foi presidida pelo escritor Ernesto Sábato.

O Brasil não fez isso antes, errou em não fazê-lo. Nossa Constituinte, que passou a limpo tanta coisa, não o fez…

Embora muitos queiram colocar um véu escuro sobre ela, a tortura no Brasil foi uma coisa terrível. Em 1979, quando a Lei de Anistia foi sancionada, havia 53 presos políticos em presídios de todo o país. A quase total maioria estava em greve de fome já por 33 dias. Preferiam morrer à míngua do que continuar vítimas de tanto sofrimento.

Conjuntamente, eles redigiram, então, uma carta listando 251 militares e carcereiros envolvidos em torturas, “dos quais 80 nos torturaram diretamente”…

Eles também denunciavam em sua carta: “Há 27 centros de torturas espalhados pelo país”. Vinte e sete centros de torturas! Sem falar nos off-Broadway da tortura, como a famosa casa de Petrópolis etc. Que vergonha, que vergonha para todos nós, meu Deus! E agora vemos políticos e jornalistas — avestruzes — insistindo em enfiar a cabeça na areia, ignorando o fato histórico, virando as costas para os compatriotas nossos que sofreram tamanhas maldades…

Se vocês tiverem paciência para escutar, vou contar os bastidores que engendraram essa Lei de Anistia, que veio num processo de desarticulação do bipartidarismo brasileiro. Não estou falando novidade, o historiador brasileiro José Honório Rodrigues, imortal da Academia Portuguesa da História, colocou isso em inúmeros textos. Em 1964, o golpe editou o AI-2, extinguindo todos os partidos políticos. A decisão foi tão radical que o nome “partido” era considerado subversivo e não podia ser usado. Aí surgiram Arena, que não era partido, era “aliança”, e MDB, que não era partido, era “movimento”. O governo militar achava que, com o bipartidarismo, iria se eternizar no poder…

Mas as eleições de Marcos Freire, Franco Montoro e de tantos outros democratas, em 1974, e a grande derrota de 78, quando a Arena sofreu uma lavada geral, fizeram os militares verem que o bipartidarismo era um desserviço a eles. E o que decidiram os pensadores do governo, SNI, Golbery e outros? “Vamos acabar com o bipartidarismo e abrir geral, para desarticular a sociedade civil brasileira”.

Assim, achavam que, com a anistia prestes a acontecer, Ulisses, Prestes e Brizola nunca estariam juntos, que cada um criaria um partido, seria uma geleia geral, e os conservadores continuariam a mandar no país. Então foi aquela onda de “marronzinhos” e “enéas” aparecendo no horário gratuito, distribuídos em mais de 50 siglas. Com isso, os estrategistas de plantão conseguiram dar uma sobrevida ao regime…

A própria agenda da Abertura girava em torno de receios da volta dos anistiados.

Havia rumores de manobras de Ulisses Guimarães para que, quando voltassem os anistiados, eles se unissem e controlassem a ação política brasileira.

Com o pluripartidarismo, a ideia era fracionar o MDB. Assim foi pensada a Lei de Anistia, pelos donos do reacionarismo: “acabando o bipartidarismo, eles vão ralar, se fragmentar, e a sociedade brasileira vai ficar perdida por alguns anos”. Dessa forma, eles poderiam sair a salvo com tudo isso, e o regime militar não teria derrota. E deu certo para eles.

Vieram Brizola, com o PDT, Lula, com o PT, Ulisses e Waldir Pires, com o PMDB, e o PFL como sucessor da Arena. O que não foi a eleição do Collor senão um êxito provado desse projeto dos militares? A eleição de Lula é que foi a ruptura histórica…

Como testemunha desses fatos, cito o próprio ministro deles, Jarbas Passarinho, que disse, e isso está publicado. Segundo ele, a inteligência estava em se saber claramente que era muito pouco provável que Prestes e Brizola se unissem. Disse também que, a partir do momento em que os “rios” estivessem independentes, a Arena estaria maior. Assim foi urdida uma anistia consentida, controlada, diferente das verdadeiras, da África do Sul, do Chile, da Argentina. Nossa anistia foi um processo de conciliação das elites. Para explicá-la, nada melhor do que o pensamento de Lampedusa: “É preciso que tudo mude para que tudo continue como está”…

O processo da Lei de Anistia tinha nove volumes, era um calhamaço daqueles, e foi discutido à exaustão no Congresso Nacional. E a questão dos torturadores não ficou à margem, não. Os debates no Congresso registraram vários discursos, do deputado Ailton Soares, do deputado Walter Silva e outros, em que foi colocado, claramente e com firmeza, que não deveria ser dada à lei uma interpretação que absolvesse os torturadores…

Como o Congresso, porém, era dominado pelo regime militar fez-se uma redação ampla, genérica, da Lei de Anistia, uma “anistia, ampla, geral, irrestrita”, uma esperteza deles para, nas entrelinhas, conseguir dar perdão a quem cometeu torturas bárbaras. Com isso, eles ficariam bem na fita, na visão da História, jogando o assunto sob o tapete…

Este foi o processo histórico da anistia.

Agora, o Brasil já se redemocratizou. E, ao contrário daqueles que dizem que “a Nação está pacificada e isso vai criar problemas”, o problema existe, sim, latente na História do Brasil. As famílias dos torturados e assassinados estão vivas. E a sociedade brasileira crítica também está viva. Deixo aqui, para nossa reflexão, o ensinamento de Hélio Pellegrino, das páginas de seu livro A burrice do demônio: “Olhar nos olhos da tragédia é dominá-la”. Não podemos deixar de olhar nos olhos da tragédia brasileira, para virar de uma vez por todas essa página infeliz da vida brasileira…”.

A imprensa com cara de tacho (mais uma vez)

abril 28, 2009

pois é. depois do esporro que o ministro Gilmar Mendes levou do Ministro (esse sim, com maiúscula) Barbosa, a “cara” da imprensa, principalmente os grandões, ficou como? com a devida cara de tacho, já que, no dia do rolo, publiquei aqui a cara deles enquanto mostravam a matéria. oh, todos indignados, supresos, horrorizados com a atitude de Barbosa? (aliás, ninguém ficou horrorizado com o sorriso nervoso e forçado de Mendes enquanto levava o esporro, né?) E agora, visto que a sociedade ACHOU ótimo o que aconteceu? já li que Barbosa era cumprimentado nas ruas no dia seguinte! agora, alguém sabe se Mendes era cumprimentado nas ruas? aliás, ele anda nas ruas?, como bem perguntou o Ministro Barbosa? DUVIDO! ah, e só pra lembrar, o PFL, ops, o DEM divulgou uma nota de apoio ao ministro Gilmar Mendes!!! sim, tiveram a cara de pau! mas, esperar o que dos demos?